30 de ago. de 2008

Descanse em Paz


As crianças acreditam em papai noel, coelho da páscoa, pote-de-ouro no fim do arco-íris, na verdade como saída pra tudo, no castigo sem vídeo-game como poder soberano dos pais. Crescem e começam querer a liberdade, passam a acreditar na adolescência como último dia, acreditam que aquele amor é o último, aquela amiga é a única, a oportunidade é última, e aquele mundo fora do controle dos pais é o melhor.
Entram para a faculdade pensando que a liberdade fora de casa é um amadurecimento. Pensam até que estão mais espertos, acreditam ter um carreira já definida, fazem planos e não sabem se confiam nos pais.
Quando viram pais, esperam pelo futuro do filho,acreditam no beijo do marido, na lágrima da novela, e vão se encostando pouco a pouco em superstições e coisas irreais, lembranças. Vão ficando velhos e quando chegam à aposentadoria, alucinam com as férias eternas, com as viagens espetaculares e 'caem' nas promoções especiais para aposentados e pensionistas do INSS. Iludem-se que o salário do aposentado vai aumentar.
No fim de tudo, olham pra trás e descobrem que ainda querem presentes no natal, mesmo que não seja do papai noel. Ainda querem chocolate na páscoa, mesmo que não seja um coelho que venha entregar. Ainda julgam que a soberania de um pai é castigar o filho, ainda esperam pela liberdade, mesmo que seja financeira. Alucinam-se com um pote-de-ouro no fim do arco-íris, como uma recompensa divina. Refletem que o passado seja como uma novela.
E sempre têm fé que vão conquistar mais, não adianta acreditar só no papai noel da infância, nem só na liberdade da adolescência, não adianta nada disto. Precisam de mais crenças. E no decorrer da vida aprendem a acrediar em pessoas, jornais, coisas, religiões, livros e filmes.
E fazem da ambição de querer sempre mais um modo de vida. Uma adrenalina incrível faz com que levantem cada dia mais cedo pra estudar, trabalhar, fazer comida, ler, informar, ensinar, ver os filhos. Acabam acordando tão cedo e dormindo tão tarde para esticar o dia e praticar tudo que a vida lhes permitir, que têm insônia.
Se cansam tanto de não dormir que um dia dormem para sempre. Os parentes e amigos esquecem que no fundo a morte é uma opção de todos nós, e choram como se nunca fossem morrer, e prometem ao seus filhos que nunca vão lhes deixar. E um dia todo mundo morre, mas o que os cansa para a morte é o que os deixa aqui. Tudo que foi escrito, gravado, fotografado, elogiado ou honroso fica, e assim tornam o cansaço de viver como a imortalidade do ser.

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfect!

Daniel Bento disse...

Esse aí me lembra um cobra que engole o próprio rabo!!! O ser humano se farta de seus vazios, de suas ambições e ainda assim se vangloriam como um exemplo a ser seguido daqui a mil anos, quando ficam obsoletos no próximo minuto!!! Já sonhei um milhão de coisas pra minha vida, e segui por um caminho que nunca passou perto de meus sonhos... talvez eu não passe de um cara frustrado, que tenta, num último lance desesperado de manter meu orgulho, mostrar a todo mundo como é imponente a minha miséria!!! Talvez eu procure a coisa certa da forma errada!!! O problema é que a vida é sufocante... o tempo passa e as pessoas continuam num carrossel, dando a volta pra ficar no mesmo lugar!!! Cabe a você descer dele e olhá-lo de fora pra entender a precariedade da brincadeira {talvez nenhuma brincadeira seja precária, dado o seu cunho eminentemente ilusório}, para ver que na verdade o mundo é muito melhor quando se observa e se entende a engrenagem da vida!!! Você tem duas escolhas: embarcar, como 99,9% das pessoas no carrossel da vida cotidiana, de viver as mesmas coisas, de sonhar os mesmos sonhos, de acreditar nos mesmos deuses... ou olhar bem e observar como as coisas funcionam e sentir o gosto da liberdade de um dia de manhã!!!