28 de set. de 2008

Todo carnaval tem seu fim

Meu time é uma merda! Meu time arde! O Cruzeiro devia acabar. Esta porra deste time só me dá raiva. Adeus campeonato, volta as camisas brancas e azuis pro fundo da gaveta até o final do campeonato mineiro de 2009.
E sabe o que mais, este blog é um cu bem grande. Nunca fiz uma postagem de verdade, o que era pra postar eu joguei fora. (mais um gol no cu do goleiro Fábio do cruzeiro).

Declaro o greve no meu blog.

26 de set. de 2008

Trauma

Tudo começou assim:
Eu bati a cabeça cem vezes na parede até que sangrou, enquanto mais jorrava sangue mais eu me divertia batendo a cabeça na parede era meio masoquista, mas eu nem ligava. Fazendo ou não no outro dia eu certamente me arrependeria mesmo. Fui curtir o momento, quando tinha muito sangue, a cara já estava toda cortada e inchada comecei a escrever com o sangue no muro, primeiro por intuito escrevi meu nome bem grande ocupei o espaço quase todo: Lílian Moreira de Alcantara, assim sem acento no CAN de ALCANTARA porque é erro do cartório. Depois que fui pensar que devia fazer algo melhor, desenhei em tamanho médio um sol assim meio de lado, mas sol era feliz demais pra ser escrito com sangue, então desenhei debaixo uns escravos suando de trabalhar, nisso o sol passou a ser um obstáculo. Depois um pouco menor que este desenho fiz o segundo em baixo do "lian" que era uma faca com um corte e ela sangrava, bem minha cara né? Uma coisa irônica suficiente pra vir de mim.
Andei até o final do muro, o último espaço branco... fiquei ali pensando e pensando o que fazer, até que resolvi tirar a minha blusa ensanguentada e carimbei a parede com ela, ficou bom. Vesti a blusa e fiquei pensando como faria pra ir embora sem ser abordada na rua por algum idiota perguntando o que tinham feito comigo, entrei num matagal que tinha ali perto e de sorte vi um riachozinho passando, era pouca água, ralo demais, mesmo assim eu ajoelhei nas pedras do fundo e abaixei o rosto pra me molhar, não adiantou muito, nem correnteza tinha pra tirar o sangue seco. Então virei de costas e deitei no rio, senti a água desviando pra continuar a descer, fingi fazer um anjo na neve e uma pedra arranhou meu braço, vi o fiapinho de sangue dissolver na água até que uma voz me alertou:
_ Este rio tá todo sujo de sangue, alguém ta jogando carne velha lá em cima, vou lá ver.
Levantei correndo e sai pra perto do muro, virei a esquina a toda velocidade e comecei a correr pro lado que tinha menos pessoas, passei por uns assustados que ameaçavam a me parar pra perguntar o que era, eu corria tanto e tanto, sem ao mínimo saber pra onde estava indo, comecei a sentir cheiro de porco queimando (quando estão matando o porco) e parei. Coloquei as mãos no joelho encurvando um pouco, respirava forte, passei a mão na testa e vim rápido contar.

25 de set. de 2008

Até o bom é ruim

Um William que não era Shakespeare, disse que desde a primeira vez que conversou comigo entendeu que eu era especial, fingi que não percebi que disse que eu tinha Síndrome de Down e continuei a vida. Tempos depois, dias talvez, esta frase começou a tomar conta da minha rotina.
Em variadas situações diziam ela pra mim, em sentido de agradecimento, raiva, compreensão ou o que fosse, eu era especial. No sentido de exceção ficou mais forte, e não parei de ouvir até hoje. Talvez seja muita falta de modéstia dizer que eu sou uma das poucas pessoas no mundo que odeio pensar em mim, meu defeito é o contrário. Quero cuidar da vida de todo mundo que me ronda (no bom sentido que isto tem) e que cuidem da minha pra mim.
Quando vejo que as pessoas reclamam de seus amigos cavucando com a unha o próprio umbigo e esquecendo do resto todo eu vejo o tanto que as pessoas são medianas. Não querem que eu cuide apenas da minha vida, mas também não querem que eu fique por conta delas, mas ainda querem que eu esteja sempre disposta quando elas me chamam.
Assim como não querem uma vida perfeita demais porque cansa, mas problemas demais causa depressão. Não querem muita festa, nem nenhuma. Não querem ficar bêbadas de amor, também não querem um amor leve demais, nem um muito perfeito exatamente no meio. Querem ser amadas pelo lado oposto, amar o lado oposto, e que nenhum dos dois seja excessivo, muito menos os dois juntos.
Se todas as coisas fossem medidas numa régua de 10 cm, ninguém ia querer a sua no 1, no 10 nem no 5. E os pontos de marcações deveriam variar de vez em quando pra ultrapassar a mesmice. É um caos tentar fazer alguém feliz, maior o caos tentar ser feliz.
Depois disto vem aquela vontade de mudar tudo, apagar tudo que é seu, apagar a memória, os textos, tudo que te demarque e recomeçar tudo. E sempre tem um palhaço que se planta na sua frente dizendo que você tá tentando um suicídio biográfico e "qual é o problema?", você pensa, pensa, não acha problema algum e senta, não faz nada.
O problema é que não tem problema. Não ter problema é um problema tão grande quanto ter muitos problemas. Porque se tá tudo muito bom, tudo muito bem, qualquer coisinha te tira do sério, te mata, te ressucita, te come, te vomita, te adoece e te sara. Quando não se tem nenhum problema, a roupa sujar na hora de sair é o cúmulo, é algo que parece só acontecer com você, e acaba com o resto do seu dia.
Não ter problema é vasculhar seus dias, minutos, segundos, atrás de um. Não te serve seus pais aceitarem tudo que você faz, seus amigos não te darem dor de cabeça, tudo ser muito bem discutido e o seu lado sempre vença. É um absurdo que ninguém questione o que você faça, será que te acham um gêniozinho ou uma anta tão grande que tornou-se indiscutivel?
Você no fundo, quer enlouquecer.

Segundos antes de morrer

Segundos antes de morrer. Você literalmente vai largar tudo que fez a vida inteira, é como se tudo tivesse valido a pena e ao mesmo tempo nada valeu a pena.
Segundos antes de morrer você percebe que não ter ganho uma boneca que fala não tirou sua infãncia. Ter ganho um jogo de tabuleiro também não te encheu, nem mudou sua vida. Cada pessoa que você conversou pode até ter te dado felicidade por uns segundos. É que segundos antes de morrer elas não são capazes de te curar, te sarar, de segurar e não deixar que você se vá.
Segundos antes de morrer (tô repetindo propositalmente) nada que você aprendeu pode mudar. Segundos depois vem a morte. Se de algumam forma você escapa delas seus segundos não foram "segundos antes de morrer", foram "antes de sobreviver".
E aí como é? Passa sua vida inteira em flash back, e depois você fecha os olhos e dorme para sempre. Toda sua vontade de viver faz com que acredite naquele último segundo numa vida pós morte, por que é ridículo demais largar tudo tão assim. E o médico da semana que vem?
Por que eu nem morri e sei tudo isto? E se é totalmente diferente? Alguém que estava morrendo já descreveu como é morrer?

Segundos antes de não morrer.

24 de set. de 2008

Dá um tapa no meu olho

A única verdade de fato existente é que não existe verdade alguma. O mais próximo de verdade que pode exisitir são fatos verídicos se analisados de um certo ângulo. O mesmo fato quando analisado em diferentes ângulos tem em si várias verdades.
Se as verdades são diferentes e opostas num mesmo assunto, nada pode ser dado como verdade, tudo seria apenas pontos de vista. Sendo assim a minha conclusão de que: a única verdade de fato existente é que não existe verdade alguma, só seria verdade se olhado neste sentido que olho. No mesmo sentido porém em outra direção ele seria uma conclusão breve sobre poucas inverdades.
E que ninguém entenda mesmo.

Se você está triste
E lhe falta alegria
Quer viver sem melancolia
Vem comigo
Vou te ensinar
A canção da felicidade
Pom pom pom
Bate as asas
Mova as antenas
Dê-me as suas patinhas
Um vôo aqui
Um vôo ali
De braços dados nos podemos ir
Pom pom pom

Agora dá logo um tapa no meu olho.

21 de set. de 2008

E já nem escrevo mais



Escrever é uma tarefa árdua, não há quem desculpe seus erros ortográficos ou entenda sua falta de criatividade por uns dias. Nunca ninguém vai procurar ler seus textos comparando com os momentos de sua vida. Simplesmente acham que você traduziu, sem nenhuma falha, uma idéia ou uma paixão num monte de palavras sujas, que se empilham nos arquivos do computador ou mesmo de seu blog.
E nesta transição de leitor eterno, para libertadora de palavras (e não me venha com a palavra escritora que não encaixa) você se cobra em dobro, não é só por querer escrever cada vez mais e sentir necessidade disto, nem por não querer deixar vago os dias, e ver o contador de visitas aumentar cada vez mais lento, porque perderam as esperanças de ler algo que realmente os interesse.
Nesta busca amarga pelo que escrever a ambição pela vida alheia aumenta. Vida alheia que nos parece sempre cheia de coisas interessantes para escrever, fatos realmente empolgantes e inspiradores para que escrever textos melhores. Neste incansável interesse por todas as vidas que te rondam a tendência de querer observar mais de perto aumenta. Aos poucos todos que escrevem abertamente sobre suas vidas tornam-se textos, e apenas textos para você.
Se perde em ler blogs, flogs, orkuts (depoimentos, perfis, recados...), e quando nem isto é sulficiente para se informar sobre vidas que você passa a tomar como sua, você abandona as palavras escritas e procura seus escritores no youtube: entrevistas, textos caseiros, festas, montagens, ou o que for. Seus dedos têm sede de informação, suas idéias precisam se esquivar, e a vida alheia passa a fazer parte da sua.
E quando (eles) resolvem passar uma semana sem postar nada, sem lhe mandar novidades (mesmo que não saibam que você os lê o tempo todo) acaba ficando assim, os textos vão sumindo, quando resolve postar algo acaba postando coisas velhas, poemas chulos, vídeos que todo mundo já viu, seus textos que ficaram tão ruins que você nunca mostrou para ninguém. E assim se esvai cada comentário, cada visita, cada um que tenha vontade de te ler.
A culpa é da sua tendência de bebericar-se dos textos alheios antes de escrever. É uma fonte de inspiração viciosa, e te culpam por não ter o que escrever. Num ato de desespero tomamos rumos de escrita que acabam com toda a carreia não iniciada. Enchendo os textos de pontos, vírgulas e sem nenhum travessão, acaba-se por entulhar mais ainda o arquivo de seu blog.

- O silêncio da casa é corrosivo. -

14 de set. de 2008

Então, fica assim

Cansei dos poemas abaixo. Achei uma antigüidade.

Quando não tiver nada pra fazer tente conversar com você, não é por angustia, nem por prazer. É só porque não tem nada pra fazer.
Quando o dia amanhece e o sol não quer te ver, parece até que vai chover.
Eu sei que quem conjuga o verbo sou eu, mas eu não posso ensolarar. Quero o dia no meu bolso, a noite no meu carro e tudo a girar.
Dependo da química, da fisica, e da TV. Eu amo minha irmã, os meus pais e você.
Já me deram um cigarro, e eu nunca fumei. Já me venderam roupa suja que eu nunca usei.
Quando eu sento na mesa, é hora de almoçar. Quando deito na cama, é hora de rezar.
Aprendi quando criança que depois, o troco e vingança.
A vida é pesada, quase ninguém agüenta, tem uns que morrem jovens, outros morrem aos noventa.
Tem bebida que é quente, tem comida que é fria e tem quem não se enche.
Música que não tem fim, história com estopim e gente que não gosta de mim. Tudo sempre ocorre assim.

Estranho como este meu texto antigo me parece tão presente. Vida igual roda-gigante, gira gira e você tá presa no mesmo meio, no mesmo lugar, tá parada.

12 de set. de 2008

Dá-lhe poemas

Uns poeminhas que achei remoendo meus rascunhos. Vou postar só pra desacumular os papéis em cima da cama. Mas são chulos, não precisa ler.

Canção de Bolso

Carrego uma canção no bolso
Que pra Marte eu vou levar
Quem compôs foi a despedida
E em cada verso eu vou lembrar

Vindo em minha direção
Chorou ao dizer
Embora tinha que ir
Meus olhos, se encheram de pranto
Meu sorriso então se foi

E no sopro da sua voz
Se foi todo o meu rancor
Não havia dúvidas
Ali se fora mais um grande amor

Carrego uma canção no bolso
Que pra Marte eu vou levar
Quem compôs foi cada esquina
Que derrotou aquele lugar
Em cada dose de bebida
Se ia um pedaço do luar

Nem cachaça, nem vinho
Tirava de mim a dor do partir
Eu não sabia se você ia sentir
Tanta falta quanto eu
Eu nunca entendi
Parece que cada sorriso
Tem um moinho pronto pra destruir

E o sonho se acabou, você pra sempre se foi
E eu aqui fiquei
Você pra Marte e eu pra Jupter
Acabou como uma canção
_ Meu amor não vá embora
Só pensava nisso aquela hora.
E partiu meu coração

Carrego no bolso uma canção
Que pra Marte eu vou levar
Se é você que vai pra lá
Se é eu que vou ficar
Não tem a menor explicação

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Anjo Bulbônico

Ai aparece aquele anjo bulbônico
Que pra ajudar precisa atrapalhar
Joga tudo que é verdade na sua cara
E mostra o caminho que vai ter que percorrer
Mostra que pra ser feliz precisa abandonar você
E cada felicidade cheia de defeitos
Que eu até gosto mas só trás prejuízo

E é por esse meu orgulho que te ligo
E peço pra não tentar voltar
Quero seguir a minha vida
Botar cada coisa em seu lugar
Quero seguir a minha vida
Botar cada coisa em seu lugar

E ai a vida vira
A Terra gira
Semana que vem volta
Semana que vem vai
Eu sou seu anjo bulbônico
E te peço pra não tentar voltar
Não tentar voltar

Eu vou seguir a minha vida
Por as minhas coisas no lugar
Espero que você faça o mesmo
E de mim leve apenas o fugaz
Me desculpe mas eu quero ser feliz
E com você não dá
E sem você não dá
Desculpe meu anjo
Mas sou bulbônico e não vou voltar
Mas sou bulbônico e não vou voltar

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Crer

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque era só uma criança feliz
E você creia ou não
Ela morreu
Creia.
Ela morreu dentro de mim
e não consigo tirar seu corpo

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque era só mais um amor
E quer você creia
Quer não creia
Se acabou na crença
Porque era mais fácil crer que a gente era feliz
Mas de crença a igreja ta cheia
Cheia de aleijados esperando a cura

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque quer você creia ou não
Falam do criador
E eu já não creio mais
Porque quem cria dizem que é Ele
E se eu destruo
Sou o satanás

E vejo tanta gente morrer na fé
Quantas vezes vou ter que repetir
Que crer, já não creio mais.
Não creio que amanhã o sol vai nascer pra mim
Porque hoje eu posso morrer

Não creio que amanhã o sol vai nascer pra mim
E eu vou me esconder
Crer, já não creio mais
E não me chame de satanás

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Eu quero é gritar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar

Me arraste daqui
Não vou pra longe
Mas também não quero ficar perto
O mundo desabou
E a culpa é minha

Não prestei atenção
Na sinalização
E agora o mundo acabou
Quero beber em um bar
Quero esquecer e lembrar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar
Quero a bruma da noite

Eu quero beber
Eu quero entornar
Não basta essa brisa
Pra me molhar

Eu quero me perder
Vou me esquecer jogada um canto
Eu quero gritar
Eu quero gritar

Mas na parede em um retrato
A sua foto pede silêncio
Eu quero é gritar
Eu quero é gritar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar
Quero a bruma da noite

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O mundo se divide em quatro

O mundo se divide em quatro partes
Cachorro que não mama não faz arte
O abstrato em chamas
Quando o circo pega fogo
Cachorro que late é bandido
Bota fogo no pano, é palha
Palhaço, o meu coração ta num regaço

O mundo se divide em quatro
É parede, cama, teto e quarto

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Poema de bolso II

A cara pintada no espelho
Um cigarro no canto da boca
Se o teu corpo é quente
E a minha mente é fria
Outra hora a gente põe isso no morno
Mordomia
Pra tudo que eu faço
Tem sempre um palhaço
Pra perguntar o porquê
Não faça dos miolos a tripa
Que o coração dissipa
Larga a bobeira de ser mão
Porque a mão que é bobeira perde a estribeira

(acho que este já foi postado)

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Lorotas de um ser

Mundo pago
Mundo vago
E sem razão

Munto otário
Cabe dentro do armário
A minha solidão

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Fim!

Contra a Ló

Não quero mais fazer deste blog um diário indireto, por isto tenho diminuido meus textos, estou controlando parte da vontade de escrever, centrando minhas forças em uma narrativa extensa que costumo chamar de livro (como vocês podem perceber não me libertei do "jeito diário de escrever"). O nome deste livro veio num texto que eu estava rascunhando por aqui, Contra a Ló. Esta palavra "ló" andava me perseguindo, cheguei a usá-la várias vezes sem conhecer seu sentido, eu inventava os sentidos pra que ela se encaixasse no meu texto, e como magia tudo deu certo. Eu usava num sentido, figurado, correto. Depois que olhei no meu fiel dicionário online da priberam:

Ló : O lado do vento; parte em que se arrumam as velas de um navio.

Descobri que não precisaria de título melhor, e do título
saiu o livro inteiro. Peço desculpa aos que andam reclamando da minha mudança de tom ao escrever, sei que estou viajando pouco, realista demais, e crítica. Pareço um jornal.

(talvez por isto à foto ao lado, troco minha cara por um jornal.)

E para os poucos curiosos sobre como anda meu livro vou colocar aqui alguns trechos:

Meu nome já nem sei, talvez me lembre ao decorrer deste livro. Escrevo desde muito pequeno, acho que comecei aos sete anos de idade. Sempre gostei de ler e de escrever, queria seguir carreira musical, não deu, não tenho talento algum. E num impulso, só pra não ficar parado comecei a escrever e me intitulei escritor, poeta, ou como queira chamar. O fato é que pra isto também não tenho dom, nem uma boa editora. Só tenho um sobrenome de peso. Alvarenga. Herdei da minha mãe, Vivian Alvarenga. Uma das maiores escritoras que passaram por aqui.

(Pausa para uma tragada no cigarro).

Não sei porque resolvi escrever este livro (...)
Inicio a partir de hoje esta história em terceira pessoa, de um ser que mora dentro de mim, não sei se é personagem ou um dos lados da minha personalidade. Traços auto-biográficos e ao mesmo tempo ilusões, reflexos da minha adolescência, passado.(...)
Mas, voltando ao livro. A história da minha personagem, começa num museu, onde acontece a primeira desgraça de sua vida. Levando em conta que esta personagem é parte de mim sabe-se também de seu terrível passado, com traumatizantes perdas e outras coisas citadas ao longo do livro.

(escorre a primeira lágrima)
(...)
Todos os flashes passavam na sua cabeça, era impossível acreditar que ele tinha morrido. Por um momento até em Deus ele acreditou, por que é incrível alguém morrer, nunca mais o encontraria nem por acaso, não adiantaria esperar suas ligações, e o pior talvez, é que quando terminasse de jogar a terra toda não teria quem o consolasse.
Pensou tanto que nem percebeu que já estava diante da cova, terminaram de jogar a terra, o padre falou algumas palavras que ele nem conseguiu ouvir. Não dava pra pensar em outra coisa, era fatal. Ele já acostumara com aquele filme, mas não aprendia nunca. Queria se matar.
Tava na hora de passar do querer, ele sempre quis tanta coisa e ficou se freando por isto e aquilo, já não tinha mais o que perder.
Chegou em casa aos prantos, foi direto pro seu quarto. Como se tivesse alguém em casa fechou a porta do quarto com chave, tirou um cigarro de maconha do bolso, acendeu e começou a apertar. Abriu a porta do guarda-roupas tirou lá do fundo uma pedra de crack, misturou com um pouco de álcool e cheirou, foi um baque só.
Quando acordou estava no hospital, não sabia como alguém tinha entrado em sua casa. Entendia perfeitamente o que tinha acontecido.

A história do livro é bem complexa, passa por problemas e mais problemas, é tudo muito confuso. Por enquanto vou postando trechos aqui, e se alguém quiser revisar pra mim e preferencialmente mandar pra uma editora bacana depois (haha), até o fim do livro.

11 de set. de 2008

Brasil, o País do Futuro

O que eu posso esperar de um país que o presidente vira celebridade nas revistas e jornais por ter tirado uma foto com a mão toda suja de petróleo? As frases questionáveis ditas por ele no dia da tal foto ainda ecoam por nossas cabeças, de tanto que foram ditas.

"Mas o governo aparentemente conseguiu impor o seu discurso, produzindo fatos – nem todos importantes – em número suficiente para dominar a cobertura." (Observatório da Imprensa)


Mais do que espero pelo país regido por um semi-analfabeto, eu deveria esperar pela seleção brasileira do grande técnico Dunga. Que começou no vanglorioso time da, do, de, aah sim ele nunca foi técnico. Nosso semi-analfabeto do futebol.

"Muito vaiado pela torcida, que o chamava de burro e gritava “adeus Dunga” durante boa parte do jogo contra a Bolívia, o técnico da Seleção Brasileira disse que a ansiedade foi o principal problema da equipe, que empatou em 0 a 0 com a última colocada nas Eliminatórias." (JB Online)

Realmente, devo esperar muito do país que:

"No caso dos grampos telefônicos, a imprensa tem dado muita importância a detalhes fornecidos por autoridades: o Exército tem equipamento para escuta, o ministro da Justiça apresentou um projeto de lei para aumentar a punição a quem pratica bisbilhotice ilegal, e assim por diante. (...) Uma lei já existe e foi violada. Trata-se de saber quem cometeu o crime de bisbilhotar o presidente do Supremo Tribunal Federal e um senador e quem pode ter sido o mandante ou beneficiário dessa malandragem. O resto é secundário, mas esse resto vem sendo noticiado como se fosse o grande assunto" (Observatório da Imprensa)


Se pensarmos num passado não muito distante, encontramos problemas graves de corrupção na política. Sem contar com a vergonhosa educação das escolas públicas, e de alunos que nem nas escolas estão, uma das maiores "empresas" no Brasil hoje é o tráfico de drogas
. Ficar falando dos problemas e problemas deste país, em época de eleição ainda, é quase um atentado. Mas é bem indignante ouvir dizer que o Brasil é o país do futuro. Aliás de que futuro estamos falando? Com o alto índice de analfabetismo (que insistem em dizer que é baixo) talvez o futuro seja mais presidentes de instigante inteligência como o atual. Não sei se dói mais viver no país do samba (tudo acaba em samba mesmo) ou estar nesta experiência única de ver os pobres de direita, apoiando governantes que não lhes dão nenhuma estrutura, além de uma esmolinha básica. Aliás, aqui a classe média é a única esquerda, e mesmo assim inativa.

E é assim, o país do futuro.


10 de set. de 2008

Dois Conceitos Numa África Só

Temos duas Áfricas, e as duas são uma só.
Poderiamos separar os clichês da África em dois: cultura e economia. Quando se pensa em cultura africana vem na cabeça uma Bahia gigante, Candomblé, Maracatu, bumbo e capoeira. Cores vivas, gente feliz, muita dança, toda aafro-cultura feliz que conhecemos.
Ao mesmo tempo tenho em mente uma África triste, das crianças passando fome, das diversas doenças, uma áfrica triste de grandes desigualdades sociais, desnutrição, doenças, pobreza. Muita gente triste.
Nunca estudei a África a fundo pra saber qual é a porcentagem de gente feliz, qual a porcentagem de gente com fome. Quem manda em quem e por que. Não sei nada sobre a África. Mas é que eu me assustei hoje, fui procurar um vídeo sobre Maracatu pra trazer felicidade e encontrei um vídeo sobre fome.
Não devia falar disto aqui, aliás nem devia postar nada hoje, no mínimo vou colocar uma música da Nação Zumbi e um outro. Constraste de sintomas muito grande pra quem assiste em seguida. É isto, tô me perplexa pra ficar escrevendo.

- Vou tentar me centrar no meu livro, e quem sabe daqui uns dias eu posto alguns trechos aqui pra dar uma atualizada. :D
( ou posto um texto digno)
Fiquem com os vídeos youtubianos:



8 de set. de 2008

Mais uma vez, eu sei

Eu queria largar toda a formalidade, bondade, educação, meu senso. Esquecer tudo que meus pais me pediam, tudo que a escola ensinava, o que a religião impunha, o que as leis mandavam. Era uma revolução particular, eu queria mesmo era sair à toda velocidade, arrancar os freios para que que não me arrependesse depois e parasse.
Sem medo algum de atropelar alguém eu queria fazer meus dreads, fumar uns baseados, cortar meus pulsos à ferro quente. Queria brincar de roleta russa com a morte, dar o nó nos pingos de água, queimar meu passado contra a ló.
Comparar a vida com navios flutuantes que derrepente afundam, ou com carros de corrida que só param quando vencem tinha virado uma rotina. Por fim, eu já tinha perdido tudo que tinha. O que não perdi, fiz questão de abandonar. E como faz quem não tem mais nada a perder, coloquei o que eu tinha em jogo (a sanidade). Apostei o resto das minhas fichas num jogo que não tinha vencedor, ainda assim perdi.
Loucuras, de uma cabeça em plena insanidade. Acabei fazendo tudo que eu tinha direito, e o que não tinha também.
O caminho mais fácil para se quebrar as regras é não acreditando nelas, ignorando-as totalmente. Realmente precisei esquecer que elas existiam. O tal de Deus era mais uma mitologia pra mim estudar, as menor idade era uma idéia comum para pessoas jovens, e a liberdade sim era um futuro, uma crença, um objetivo pelo qual eu ultrapassaria qualquer barreira para conquistar.
E ultrapassei. Fiz da religião minha piada matinal, dos meus pais um obstáculo, da minha irmã uma convivência insuportável a mais, amigos eu praticamente não tinha (fiz questão de quebrar todos os vínculos). E quebrei estes vínculos por que não poderia sentir saudade, a vida tinha que estar desgraçada sulficiente para que eu não tentasse voltar atrás.
E eu fui com toda a fé. Num último passo rumo à minha tão aguardada liberdade entrei naquele ônibus, levei todo dinheiro que encontrei pela casa. Passei uma semana fora, mas só algumas horas longe do rastreador da minha mãe. Foi no mínimo uma semana de consciência. Eu sabia que se eu não quisesse voltar pra casa eu não voltaria, e eu decidi voltar.
Voltar por que se tinha dado errado alguma coisa aqui atrás tinha ficado. Foi um momento de lucidez, um único. Não tenho tanta vontade de ir mais, nem de ficar se quer mesmo saber.
Serei lembrada eternamente como a prima que fugiu de casa, a menina da sala de não-sei-quem que largou tudo, a loca que deu a loca.
Nessa vida breve e intensa, como já dizia Cazuza, eu quero mais é correr perigo. Sinto um êxtase pelo perigo. O frio na barriga é sempre bom. Tudo que é intenso é melhor. Não sei, ando confortável demais para escrever. Já prometi largar este blog por uns tempos. Entediante!
Desta vez vou entrar pela tela do computador e sair dela. Pra não sentir mais vontade de ficar aqui, cara a cara com uma tela tão mutável. (haha, piada interna).

7 de set. de 2008

Sem contexto algum. Carimbado o fim.

Não foi uma tirada, embora fosse um indireta. Uma observação talvez.

( mas ainda não estamos salvos o ar está pesado)

E dizem que sou louca, por pensar assim, por escrever assim. E ainda há quem leia.
Tentam incansavelmente tirar proveito do nada que fala com este turbilhão de palavras que vêm a minha mente. É tudo prolixidade. Aquela arte de dar voltas, usar milhões de palavras, e não chegar em ponto algum. Esticar demais para falar algo simples.

(tem sempre um lugar onde você não está)

Passo horas tentando decidir se vou estudar, ler, me informar ou divertir.

(o pensamento é a guerra a guerra civil do ser)

O som: meia altura.
Os blogs alheios: desatualizados
O msn: desconectado
O orkut: desorganizado
Os livros: todos empilhados

(foram frases decoradas, tristes e sagradas)

Não sei por onde penso, no que me inspiro e se tenho conclusão no fim. Ao som louco de Cazuza fui abduzida por nomes que não sei o significado. Queria ter nascido na índia, mas isto nem interessa.
Ando muito insensível para escrever aqui.

(volto à lucidez)

Toda vez que forço pra escrever algo, empilho merdas em forma de letras. Minha caligrafia greco-romana e medicada. Escrevo como bula de remédio. Ás vezes como andróides sem par.

(Não me subornaram será que é meu fim?)

Meus textos têm piorado cada dia mais. Desde aquele 'Descanse em Paz' que não encontro lucidez nenhuma para escrever. Dou então ínicio às minhas férias sobre meu blog. À partir de hoje tenho novos compromissos, novas rotinas. Este é meu ilusório fim do apego à internet.

Termino então ao melhor do som de Cazuza: ...são todos seus cicerones, correm pra não desistir dos seus salários de fome...

5 de set. de 2008

Sem título, pode ser?

Tem um impulso querendo me fazer escrever sobre meu contagiante dia. Mas eu vou tolerar meu egocentrismo e não vou falar de dia nenhum. No máximo de uma "música" que fiz hoje, como não tenho o que postar vou postar ela mesmo.
Primeiro vieram os acordes, por espontaneidade da Benelice, depois veio a letra por explosão e grande teimosia da minha parte. Uma série de palavras que a gente precisa dar um ritmo ainda, ou mudá-las (o mais provável).
Então, sem demagogas vou postar a nossa "música" até então sem título, ou chama Dois de mim?
O fato é que ninguém vai entender o lado certo da coisa. Ainda assim, vamos lá:

Num sopro de vento
Milhares de páginas
Pela janela da casa
Saem e entram em mim
Pela sombra da vidraça na sala
A luz do sol
Fim de tarde sem mim
...
Por que foi deste jeito
Não sendo perfeito
Escapou tão assim

Já não ponho lençol na cama
Não visto pijama
Não durmo sem mim

Na segunda pessoa
Aprendi a amar
E descobri que já não há você
Só dois de mim

Para mim
Meu fundo do poço
Meu menino moço
Meu tropeço em cena
Mais que um esquema
Sempre foi meu delito
Meu ato ilicíto
E agora meu fim.

Mais poemas meus, menos cultura pro mundo.


4 de set. de 2008

Velhos e crianças, tristeza sem fim

A criança é o inverso de um velho e ao mesmo tempo perfeitamente congruente.


Percebi ao longo dos tempos que a mesma representação de limite de uma janela para aquela velhinha era a da grade do berço pra'quele bebê. A diferença, no entanto, era clara. A moça de cabelos brancos parada na janela não podia passar dali por estar frágil demais pra ficar andando por aí. E a menininha ainda sem cabelos, debruçada no berço não saira engatinhando pela casa por que ainda é frágil demais para ficar arrastando as perninhas no chão.
A velhice deve ser desconfortável, é uma solidão sem esperanças de passar. Uma fase que só se saí dela morrendo, agonizante.

[Num século em que livros de auto-ajuda são devorados ansiosamente por todas as classes sociais, sexuais e etárias. E que tiros contra o próprio atirador são desparados à todo instante. Numa era em que a "tribo" mais recente é caracterizada por cortar os pulsos e chorar compulsivamente...]

A velhice por si só, já é uma depressão tremenda. Não há esperanças pra exilar o que os velhos sentem. Todas estas pessoas que são depressivas ao extremo, por característica dos primeiros anos deste milênio, como vão encarar a dura realidade de estar prestes a morrer? Prefiro nem me indagar muito.
Ao mesmo tempo penso na criança no berço, crescendo neste mundo já tão triste. De previsões para o fim deste à todo momento, uma humanidade que depende de inúmeros remédios de tarja preta, simplesmente para dormirem ao som da respiração alta do vizinho de quarto, ou sem chorar com as preocupações dos desamores que tiveram.
Crianças que não vão ralar seus joelhos, por que os pais não estão bem para levá-los para correr e cair. Meninos e meninas que não vão vivenciar o significado da palavra "pique", por que as correrias na rua foram trocadas por manetes e teclados.
Uma sociedade cada vez mais imediatista. Se drogar vira sinônimo de se conter. Passam fome para emagrecer. Pedem à Deus que ele prove que exista tirando-os daqui. Querem acessar tudo de uma só vez, até dar pane no circuito.
E os velhos continuam na janela, admirando este movimento triste e corriqueiro, vendo tudo em preto e branco, enquanto a maior conquista de sua época foi colorir a televisão e o mundo. A turma dos caras-pintadas têm filhos que só se pintam por culpa das lágrimas que borram o lápis preto.
E as crianças da beira do berço admiram o mundo em que vão crescer. Já têm por instinto chorar para pedir, aprendem a chorar também para agradecer.



Um velho deitado no berço, e uma criança debruçada na janela. É assim que termina esta história.

O poeta está morto

O poeta morreu
Mas ainda está vivo
Cheio de dedos
Suas digitais
Marcadas no teclado

Está vivo
Na estante
Sua coleção de nãos
Todas fotografadas
Em lágrimas agonizantes

O poeta não morreu
Se é poeta
São poemas
E eles estão todos aqui
Espalhados pelo chão
Mesmo que cobertos de sangue

Tudo aqui
Lápis apontados
O copo
Meio vazio
Meio derramado

O poeta não vai acordar
E nunca mais vai dormir
Não dorme
Não vive
Não morre

Se fez imortal
Com seus poemas
De reflexos mortais
E o brilho de sua espada
Vem das lágrimas
Assim como todo os poetas
De triste se fez extinto

Quem é que escreve
De louco
Sobre o poeta morto
E quase prevê
Sua morte súbita

2 de set. de 2008

Um sonho-pesadelo

Olhei nos olhos de meu cão, que nem por um olhar me respondeu. Parei o ponteiro do relógio para olhar pela última vez aquilo em volta, parecia um abandono, não haviam sinais vitais.
Desci as escadas sem derramar nenhuma lágrima, sentia cada vez mais meu coração palpitar mais forte e forte. Abri a porta de meu quarto e num adeus em câmera lenta respirei bem fundo, para nunca esquecer meu próprio cheiro.
Queria mesmo partir a pé, mas é que "não dava pé". Quando o táxi chegou, eu já não via a hora de deixar tudo pra trás. Senti um leve vento desesperador de liberdade balançando meus cabelos. Era a minha revolução silenciosa, sem silhuetas, marchas imperiais ou tiros.
Horas mais tarde meu celular parecia um alarme de incêndio, não parava. Eu olhava os nomes e números que me ligavam, apenas por ironia. Resolvi atender uma das pessoas, e brincando com a verdade lhe enrolei de mentiras óbvias.
Confesso até ter passado por uns aflitos, um deles quando aquele rapaz entrou no ônibus procurando por uma tal Lílian, felizmente não pediu minha identidade. Me batizei então de Júlia.
Num tom meio poético, tudo que eu queria era conseguir chorar, ficar triste, angustiada, arrependida... Precisava me sentir mal, aquilo não era normal. Porém o que me tomou foi um ar não-covarde, uma felicidade contagiante, liberdade, empolgação, fiz planos pra uma vida inteira. Como viveria sem dinheiro, onde, com quem, como faria quando chegasse ao meu destino, se de lá eu partiria para outros.
Frustrante! Cheguei em Belo Horizonte sem encontrar ninguém a minha espera, pela primeira vez. Meus olhos brilharam. O coração palpitou muito forte quando pus a mão em minha mala, e antes que eu virasse num giro para pegar um táxi até a primeira parada alguém me abraçou por trás e cochichou meu nome. Era o fim de um sonho.
Com as piadas irônicas que tive que ouvir até chegar no carro, chorei. Chorei por mais um fracasso, por terem me encontrado, pelo meu futuro ser daí então menos amargo do que eu desejava. Tinha um desejo masoquista de sofrer, sofrer por fome, sofrer por frio, por saudade, por tudo que as ruas me permitissem.
Eu queria viver o que não me era permitido. Mas isto também não me permitiram.

1 de set. de 2008

Uma vida por quinze minutos de aula

Minha mãe nunca me buscava na escola, eu ia de Topic pra casa depois da aula, sentia inveja dos colegas que saiam cinco minutos mais cedo por que as mãe foram buscar. Sempre que eu precisava sair mais cedo da escola, quase nunca, e minha mãe fosse me buscar ela me avisava. Meu sonho era um dia ela me surpreender.
Foi na quarta série, eu sentava no fundo da sala encostada na porta, minha mãe chegou por trás de mim, sem que eu vêsse, e sinalizou pra professora que precisaria me levar.
A única coisa que vi foi a Tia Rosário dando seu sorrisinho meigo como quem diz sim, e olhei pra trás com olhos cansados e desesperançosos, quando vi que era minha mãe uma alegria imensa surgiu, vi todos os meus sonhos se realizando. Pensei que ela tivesse escutado meus pensamentos e tivesse resolvido fazer uma surpresa.
Guardei os matériais com a maior rapidez que pude, e abracei-a ao sair da sala. Estranhei ela sair mais cedo do serviço, mas não lhe perguntei nada. Aliás nem me lembro de conversa alguma enquando descíamos as escadas e atravessavamos a quadra, quase no final da mesma quadra ela respirou fundo e falou com voz meia engasgada:
_ Eu não quis falar lá em cima não, mas o Luis Fernando (meu primo, que estava internado ferido gravemente de um acidente de carro) morreu.
Se quer saber, não me lembro deste Luis Fernando vivo, só ouvi dizer que já o vi quando muito criança, mas eu nunca daria falta se não fosse pela quantidade de assuntos que surgiu com o nome dele desde o dia do acidente. Mesmo assim fiquei muito chateada, não pelo meu primo, mas pelo fato da minha mãe me tirar da aula 15 minutos mais cedo por um motivo justo. Ela não tinha realizado meu sonho.
No dia seguinte quando cheguei a casa de meu tio Lalado (José Geraldo) eu quis ver o caixão, pra ver se o reconhecia. Minha mãe me disse pra não ir, que ele tava muito diferente e eu não reconheceria. Mesmo assim me misturei naquele bolo de pessoas, e parei de frente ao caixão, deparei com um rosto largo e cheio de marcas roxas, parecia ter apanhado muito antes de morrer, senti uma tristeza pela sua dor.
Antes que eu me desse conta que aquilo eram as marcas do acidente, minha mãe chegou perto de mim e pegou uma foto em cima do caixão e me mostrou:
_ Ele era este daqui olha.
Minha vida inteira passou por mim e senti um frio ao ver um primo tão magro e moreno por foto ser o mesmo inchado e roxo do caixão. Perdi o apetite, e vi ele como o Jesus da minha vida, em silêncio agradeci por ter morrido para realizar meu sonho de sair da escola mais cedo. Porém, acho que meu tio nunca vai me perdoar por ter lhe tirado um filho por assuntos tão banais. Confesso ter ficado com grande peso de culpa por sua morte, e nunca ter me perdoado.

Bipolaridade é pouco

Escrúpulas idéias que consomem meu ser. Um estranho ser que nunca conheci por inteiro, não sei quem sou. Mal mal sei do que gosto, mesmo assim tenho dúvidas. Um oco me confunde, e ninguém nunca entenderá, nunca.
Coisas que eu nunca quis, nunca parei pra pensar... me tomam por inteiro num segundo só, antes que dê tempo de piscar os olhos, para não ver, já me transporto pra porta do elevador e estou lá mudando minha vida totalmente.

Nascemos uma luz branca, refletindo todas as cores. Com o passar do tempo selecionamos as cores certas e montamos nossa reflexão. Uns viram uma cor só, outros viram duas. O fato é que mesmo sendo três ou quatro cores as pessoas se misturam e formam uma imagem só, uma pessoa, uma só cor.
O preconceito é com aqueles que absorvem todas as cores e não refletem nenhuma, ou com aqueles que continuam refletindo todas pra sempre. As eternas luzes brancas quando vão de encontro à um prisma viram arco-íris. Algo mais lindo?



Num ócio sem fim sento pra escrever sobre uma infinitude de coisas que passam pela minha cabeça. Reflexos que não posso distiguir. Enquanto isto vão ecoando pelas paredes da casa a voz de dona Irene (a empregada) falando sozinha, ou melhor, com seu balde de água.

Passo horas a corroer minhas unhas tentando em vão vencer a angústia egocêntrica de falar apenas de mim mesma. Já não sei escrever em terceira pessoa, tudo parte de mim.

Você é o braço do meu abraço
E este espaço entre nossos braços

E só pioro, além de correr atrás de tudo, corro dentro de mim mesma procurando algo num vão qualquer.

trechos de rascunhos quase não postáveis