31 de jul. de 2008

Dos meus antepassados até você: quem sou eu?

É ignorante o ser que tenta se definir, que seja com uma palavra, uma frase ou um texto. Alguns chegam a fazer livros, ultrapassam os limites da ignorância.
Por mais que ninguém veja, todo ser é ilimitado: de histórias pra contar, e nem se lembra de todas. De onde veio e onde vai chegar é impossível dizer. Uns dizem que suas histórias começam ao nascer, outros no casamento dos pais. Mas estão errados, a sua história começa com os pais de seus pais que eram filhos de outros pais que tinham irmãos que os apoiaram, que tinham maridos e mulheres, filhos ... e toda árvore genealógica, para cima e para os lados. Onde sua família começa?
Vai além do início de sua história e do verdadeiro fim. Que fim é esse? Se seu túmulo ocupará o cemitério por tanto tempo, se sua vida se fará história para os netos de seus netos, e seus rascunhos, estudos para outra humanidade? Que fim há se o infinito te persegue?
E se quer saber, os dias que se passam do seu nascer à sua morte é mais ou menos o tempo que demarca o meio de tudo isso. E nem este meio, alguém é capaz de definir, delinear, contar, expressar ou explicar. Este meio contém as dificuldades do seu parto, que você certamente não lembra, contém as suas emoções de meses de vida, que talvez nem entendesse, fatos e pessoas que você vê na rua sem sequer notar. Sua vida não é o que você pensa, nem as viagens mais marcantes.
Difícil, é expressar a vida. Como fazer uma auto-biografia se nem sabemos quem somos nós? De onde viemos, o que fazemos, se temos vida passada e vida além. Acreditamos também, acredita-se em vida passada, outros em vida além, mas no fundo uma incerteza cobre todo ser. E das incertezas tentamos nos demonstrar certos, que é pra não explicar muito. E ninguém no fundo sabe quem é, vive controlado por um outro ser aqui dentro, e eles as vezes brigam. Um não quer e o outro no impulso faz, um bebe e o outro esquece.
Ilusão é achar que somos alguém, não somos nada. No máximo, uma carcaça que pensa junto com os vínculos que misteriosamente temos com nossos antepassados, que nem sabemos quem são. Somos todos resultados de milhares de somas, e de soma em soma, tornamos números, estatísticas, e dos números herdamos uma coisa inimaginável, a falta de começo e fim.
E assim vivemos, do fim ao ínicio sem sequer passar pelo meio. A história infinita de todo ser!

27 de jul. de 2008

Viagem, das com J.

Queria escrever um texto contando meu dia: sem parágrafos, muitos pontos e poucos detalhes, apenas observações.

" Acordei sem perceber. Levantei sem pestanejar. Comi sem saborear."

Foi neste ponto que apertei o 'back' e apaguei o projeto de texto. Sempre faço isso, é que viajo muito em meus textos, faço a leitura ficar chata. Talvez por isso eu nunca tenha conseguido escrever um livro, começo a detalhar muito a cena e esqueço o conteúdo que era pra por.
Talvez me daria bem como diretora de filmes, diretora de filmes... taí uma coisa legal. Eu gosto de ver o que eu mudaria nas personagens de um filme: uma roupa, cor da maquiagem, uma pinta... e principalmente a emoção da cena. Faria um filme de frases curtas, objetivas e amargas. Resumiria as falas todas no jeito sutil de olhar. E depois daria o título de 'uai'.
Uai, assim bem mineiro, que é a palavra que resume a frase inteira no óbvio do questionamento.

_ Você tá diferente comigo.
_ Uai.

É irônico, engraçado e não tem consoantes.
E se não tivesse tudo que 'falei' por escrito eu perguntaria: de onde o assunto começou? Retornaria na história aos poucos, fazendo pausas.
Quer saber? Meus filmes seriam todos assim, viajados como este texto. Não tem um porquê, ninguém sabe onde fica o começo, nem se tem fim.

Cazuza - Filosofia de Calçada


Meu pensamento voa
Pelo chão cheio de raiva
Cana e atenção
Como este poema bobo
Amassado no bolso

Em que bar será
Que você fica rindo
Daquele amor
Que eu achava lindo?
Mas eu não vivo mais feliz
Fazendo o que o meu coração me diz
E ele quis assim

Que eu ficasse
Dando mole na esquina
Fazendo pose
E se não der certo
Meu coração é esperto
Não vai parar de bater
Pra te esquecer, meu bem

7 de jul. de 2008

Meu travesseiro e o Carpinejar

Foto: O que interessa mesmo, é a almofada retângular no canto direito da foto. nada de bixo papão debaixo da cama.


Me sinto desleixada. Cada vez que leio um texto no blog do Fabricio Carpinejar descubro que tive menos infância, que tenho menos amor, não sei observar, não sinto, não tenho história... sou dura, sem sentimentos, sinto o que os outros sentem, não sinto apego ao que é meu, sinto apego ao apego dos outros.
E foi vagueando pelos arquivos do blog de Carpinejar que percebi meu desleixo maior, quando ele fala do travesseiro, que carrega a história de cada um, na rodoviária podemos avistar várias pessoas com travesseiros. Tive de concordar que travesseiro cada um tem o seu, aquele um pouco mais duro, ou um pouco mais macio não serve. Aquele que não tem o cheiro do seu cabelo, ou as marcas de suas unhadas nas noites aflitas também não serve.
Travesseiro é pessoal, tenho o meu médio, não me dói o pescoço nem a coluna, não me provoca sensações estranhas, nem deixo em casa quando vou viajar. Mas me sinto desleixada, não cuido do meu pedacinho de algodão, com as marcas de minhas babas de quando ainda usava aparelho, com os amassados de minha mão ao ter meus pesadelos. E se por acaso o esqueço em casa, não passo a noite em claro. Durmo com um outro qualquer, até sem nenhum.
Falta de sentimento, adaptação rápida. É como se eu trocasse de família e não sentisse falta desta, dos bolos da minha irmã, da lasanha da minha mãe ou da opinião rígida do meu pai. Da impaciência de cada parede ao me ver chorar deitada em meu quarto. Não tenho apego ao meu travesseiro, apesar de achá-lo perfeito. Talvez isto seja um crime pessoal tão grande, uma facada em minha história, em todos meus esconderijos do pique-esconde, em todas as manhãs de primeiro dia de aula que acordei pensando "Primeiro dia de aula é sempre mais escuro, as estrelas demoram mais a sumir, primeiro dia de aula vem à noite."
Tenho medo de um dia me perder de mim e nem me dar conta, de tão ágil adaptação. E se meu nome não for este, talvez eu nem lembre mais. Qual é mesmo a marca do meu travesseiro? Nunca procurei saber. Mas agora é tarde, a etiqueta já desbotou.

6 de jul. de 2008

De Onde Vem a Inspiração?


É que a inspiração é algo muito abstrato, sento em frente à mesa do computador. Abro meu blog, tento forçar algo para escrever, rejeito minhas próprias idéias. Procuro um ambiente que inspire algo, leio alguns trechos de livros, ouço alguma música, coloco meus óculos, tento ser leve. Nada de inspiração. O mesmo acontece quando preciso fazer um texto na escola.
Mas a noite, depois que saio do computador, guardo todos os papéis e canetas espalhados, deito na cama, longe de qualquer fonte de inspiração, afundo o travesseiro com a cabeça, e fecho os olhos já preocupada com o dia de amanhã, ela chega. A visita que esperei o dia inteiro, repousa ao meu lado me dando ilustres idéias, aquelas de quais eu me orgulharia infinitamente se escrevesse. Vêm prontas, o texto, o paragráfo. Tudo.
Me reviro na cama tentando imaginar uma forma de não levantar meu corpo pesado pela sonolência e anotar o que estou pensando ainda assim. Não encontro um jeito, fico repetindo cada frase que me vem a fim de decorar. No dia seguinte de nada adiantou, minha inspiração foi descartada. Já não me lembro nem o que ocorreu depois que respousei na cama.
E às vezes me pergunto se a inspiração não pode ser educada, para vir todos os dias no mesmo horário, assim como a fome ou o sono. E ainda não encontrei um jeito de fazer isto. Outro defeito da inspiração é que ela vem em imagens, em arrepios, fatos, frases feitas. Não vem em parágrafos. Não é nada fácil tentar passar o que me vem na cabeça para o papel. A inspiração é uma idéia em outra dimensão, deve ser através dela que conversam os extra terrestres.
E termina assim, inspiração não tem fim, inspiração não tem conclusão. Passei algum tempo vendo fotos, e não consegui encontrar um fim. Inspiração é um dom cheio de defeitos... e sempre termina em reticências. Quem consegue contornar as reticências do fim? Estes sim têm o meu aplauso, estes sim sabem inventar algo sem inspiração. Quando chego ao fim do texto, minha inspiração já se foi. Isto se é que ela veio.

3 de jul. de 2008

Cazuza, meu grande ídolo


Estranho que meus ídolos também tiveram seus ídolos, e suas influências. Que chegam a ser minhas.
Tava lá ate outro dia, pra mim é outro dia e ainda não morreu, Cazuza. Tá na música, meu CD ainda roda, pra falar a verdade tenho vontade de dizer "o LP ainda roda" mas não peguei esta fase, infelizmente, porque o disco preto tinha uma melodia por si só. E ainda vou ter os meus.
Voltando ao Cazuza, talvez tenha sido minha primeira grande influência. O primeiro cantor que procurei ler as músicas, procurei sentir. Entendi. É verdade que todas as músicas lembram várias pessoas, mas a rebelde forma de escrever dele lembra muito minha antiga revolta comigo mesma. E foi ai que me apaixonei, quando descobri que apesar de não chegar nem aos pés, alguns de meus rascunhos lembravam "e não me importa que mil raios partam" ou outros trechos.
E foi ai que comecei a ter minhas influências, um pouco de Graciliano Ramos, com uma pitada de Cazuza, adicionada de Rita Lee, completada por Raul Seixas com o humor de uns e outros e a esperança de Carpinejar. E assim fui me formando, ainda falta muito para conseguir passar exatamente o que penso pro que escrevo, mas vou me adaptando.
O mais estranho mesmo é ver que assim como sou um resultado de tantas influências, minhas influências são influenciados resultantes. É estranho pensar que tão ilustres compositores, escritores, contistas... conseguiram misturar outros ainda melhores, ou misturando tão bons se tornaram melhores que suas influências. E chega um ponto que gostar de um cantor é gostar de todos que misturaram-se até gerar ele. Cheguei em um ponto que para gostar de Cazuza, penso que tenho que gostar da Som Livre inteira que freqüentava sua casa, e de tantos outros que ele só ouvia nos Lp's.
Comecei o texto a fim de falar de um texto do Cazuza em que ele fala um pouco de suas influências, mas por me perder em tantas lembranças da descoberta de um dos meus maiores ídolos, paro por aqui. Que é "pro dia nascer feliz".

"Desde pequeno fui tiete de todo o pessoal da MPB. Elis Regina sempre tava lá em casa. Eu acordava de noite para tomar água, e lá estavam na sala o Gil, Caetano, a Gal. A música popular inteira me pegando no colo. Os Novos Baianos acamparam lá em casa, dormiam, iam comer, porque na época eram fodidos, não tinham onde ficar, e meu pai estava produzindo o primeiro disco deles. Só fui curtir rock, Janis Joplin, meus ídolos dos Rolling Stones, lá pelos 14 anos, quando dei uma pirada. Mas antes, o máximo que curtia era coisas do tipo 'Alone again naturally', água com açúcar. Nessa época aos 14 anos, passei umas férias em Londres com um primo mais ajuizado. E foi mais uma abertura. Então passei a ouvir Janis Joplin o dia inteiro. Quando comecei a compor, acabei misturando tudo isso. Do menino passarinho com vontade de voar (Luiz Vieira) a Janis Joplin. Mas com uma diferença. A dor-de-cotovelo da MPB, mas dando a volta por cima. 'Ah, você não gosta de mim? Então, foda-se também, eu estou aqui e sou mais gostoso.' O rock da turma nova veio amenizar o lance down, meio negro, de Lupicínio, do pessoal da antiga, que era a falta de esperança no amor. O importante não é cantar a perda, mas o amor. Afinal, como dizia Dalva de Oliveira, 'o amor é o amor'." (Cazuza)