29 de ago. de 2008

Memórias de uma adolescente perturbada




Tudo começou aos dez anos de idade, sempre tive uma imaginação muito ativa e imediata. Se me fazem uma pergunta que não posso responder, nem penso e já arrumo uma desculpa, um escape. Quando cheguei aos dez anos e me deparei com a primeira grande mudança de amizades na minha vida, percebi que pra conseguir um espaço no novo ambiente eu teria que ser uma pessoa interessante, de histórias pra contar, assuntos pra conversar e o máximo de informações possíveis, precisava ser mais que eu era.
Neste momento minha imaginação entrou em cena, como eu não tinha dinheiro, idade, nem permissão pra fazer qualquer coisa que tivesse idéia eu inventava que tinha feito, que tinha ido, que tinha lido. E botava uma porção de detalhes nas mentirinhas que era pra deixar mais consistente e as mentiras foram aumentando.
Quando a história era verdade, eu colocava falsos detalhes mesmo assim, que era pra dar uma engrossadinha no caldo. Foi virando um vício grande dentro de mim, esbarrei num ponto que eu acreditava que aquelas histórias todas eram verdade, mas numa dimensão da minha vida que eu não conseguia sintonizar, e quando eu dizia bobagens como "ah hoje não posso ir na sua casa porque vou no aniversário da Fulana" (e esta fulana nem existia) eu acreditava que se eu saísse de casa e fosse pra onde meus pés me levassem sozinhos eu encontraria uma festa de aniversário de uma certa Fulana que me conhecia em outra dimensão e a única confusa da história seria eu.
Foi neste momento que percebi que tava na hora de começar a equilibrar minha vida, deixar minhas invenções de lado e viver do que era sólido. Aos poucos fui largando as histórinhas de sempre de lado, as vezes me cobravam informações sobre certos aspectos que eu tinha inventado, e eu dava pequenas informações.
Só que por um descuido qualquer sob minha imaginação estas histórias voltaram com tudo, focalizei tudo num livro, e por preguiça de escrever acabei guardando elas dentro de mim, de semana em semana eu abria um arquivo de texto e desabafava todas as mentiras dentro de mim. E não me libertava.
Por fim, acabei explodindo. Percebi que minha vida já tinha um monte de verdades bem mais interessantes que as mentirinhas toscas que eu inventava como conseqüência de um distúrbio louco de pré-adolescencia. Eu não queria perder mais segundo algum com tosquices.
E se eu não pudesse construir uma biografia pertubarda o sulficiente (o quanto eu queria) sendo uma menina de 16 anos com um curriculo de quem fugiu de casa por uma vez, tentou suícidio duas, esteve a um passo bem curto do mundo das drogas, já sofreu acidente de carro e tantas coisas mais, eu também não queria mais ser a perturbada da história. Até isto já tinha me cansado. Resolvi dar um basta, eu já não gostava mais assim.
Não é fácil abrir o livro da sua vida, soprar a poeira e falar que isto e isto é mentira, você nunca foi em tal lugar que diz que foi, nunca gostou disto que disse que gostou, nunca aquilo e o que você disse que nunca já fez. No minímo eu tinha que estar disposta a perder tudo e todos que eu tinha conquistado. Não sei como consegui forças pra chegar onde cheguei.
Mas resolvi tudo, apaguei tudo de bom e ruim. Acordei sem reconhecer meu próprio rosto no espelho, meus personagens e sonhos loucos que me atormentavam começaram devagarzinho a se trocarem por realidades, sonhos palpáveis. E o que eu fiz nesta semana toda de distúrbio entre decidir o que eu fazia tava ficando irrecuperável, os que eu nunca cheguei a mentir, eu tinha tratado com uma paranóia tão grande de uma pessoa totalmente sem nexo, que se afastaram de mim antes que se agravasse.
Realmente não foi uma bela fase, até estou tentado recuperar o tempo perdido, se é que ainda dá tempo. É triste ser feliz, e triste ser triste também. Irreal! Só isto.
Como se alguém lêsse mesmo as porcarias que eu escrevo aqui, queria pedir desculpas aos que enganei, tratei mal ou com total insanidade. E, só.

1 comentários:

Will disse...

sinto muito orgulho de você ;}