4 de set. de 2008

Velhos e crianças, tristeza sem fim

A criança é o inverso de um velho e ao mesmo tempo perfeitamente congruente.


Percebi ao longo dos tempos que a mesma representação de limite de uma janela para aquela velhinha era a da grade do berço pra'quele bebê. A diferença, no entanto, era clara. A moça de cabelos brancos parada na janela não podia passar dali por estar frágil demais pra ficar andando por aí. E a menininha ainda sem cabelos, debruçada no berço não saira engatinhando pela casa por que ainda é frágil demais para ficar arrastando as perninhas no chão.
A velhice deve ser desconfortável, é uma solidão sem esperanças de passar. Uma fase que só se saí dela morrendo, agonizante.

[Num século em que livros de auto-ajuda são devorados ansiosamente por todas as classes sociais, sexuais e etárias. E que tiros contra o próprio atirador são desparados à todo instante. Numa era em que a "tribo" mais recente é caracterizada por cortar os pulsos e chorar compulsivamente...]

A velhice por si só, já é uma depressão tremenda. Não há esperanças pra exilar o que os velhos sentem. Todas estas pessoas que são depressivas ao extremo, por característica dos primeiros anos deste milênio, como vão encarar a dura realidade de estar prestes a morrer? Prefiro nem me indagar muito.
Ao mesmo tempo penso na criança no berço, crescendo neste mundo já tão triste. De previsões para o fim deste à todo momento, uma humanidade que depende de inúmeros remédios de tarja preta, simplesmente para dormirem ao som da respiração alta do vizinho de quarto, ou sem chorar com as preocupações dos desamores que tiveram.
Crianças que não vão ralar seus joelhos, por que os pais não estão bem para levá-los para correr e cair. Meninos e meninas que não vão vivenciar o significado da palavra "pique", por que as correrias na rua foram trocadas por manetes e teclados.
Uma sociedade cada vez mais imediatista. Se drogar vira sinônimo de se conter. Passam fome para emagrecer. Pedem à Deus que ele prove que exista tirando-os daqui. Querem acessar tudo de uma só vez, até dar pane no circuito.
E os velhos continuam na janela, admirando este movimento triste e corriqueiro, vendo tudo em preto e branco, enquanto a maior conquista de sua época foi colorir a televisão e o mundo. A turma dos caras-pintadas têm filhos que só se pintam por culpa das lágrimas que borram o lápis preto.
E as crianças da beira do berço admiram o mundo em que vão crescer. Já têm por instinto chorar para pedir, aprendem a chorar também para agradecer.



Um velho deitado no berço, e uma criança debruçada na janela. É assim que termina esta história.