8 de set. de 2008

Mais uma vez, eu sei

Eu queria largar toda a formalidade, bondade, educação, meu senso. Esquecer tudo que meus pais me pediam, tudo que a escola ensinava, o que a religião impunha, o que as leis mandavam. Era uma revolução particular, eu queria mesmo era sair à toda velocidade, arrancar os freios para que que não me arrependesse depois e parasse.
Sem medo algum de atropelar alguém eu queria fazer meus dreads, fumar uns baseados, cortar meus pulsos à ferro quente. Queria brincar de roleta russa com a morte, dar o nó nos pingos de água, queimar meu passado contra a ló.
Comparar a vida com navios flutuantes que derrepente afundam, ou com carros de corrida que só param quando vencem tinha virado uma rotina. Por fim, eu já tinha perdido tudo que tinha. O que não perdi, fiz questão de abandonar. E como faz quem não tem mais nada a perder, coloquei o que eu tinha em jogo (a sanidade). Apostei o resto das minhas fichas num jogo que não tinha vencedor, ainda assim perdi.
Loucuras, de uma cabeça em plena insanidade. Acabei fazendo tudo que eu tinha direito, e o que não tinha também.
O caminho mais fácil para se quebrar as regras é não acreditando nelas, ignorando-as totalmente. Realmente precisei esquecer que elas existiam. O tal de Deus era mais uma mitologia pra mim estudar, as menor idade era uma idéia comum para pessoas jovens, e a liberdade sim era um futuro, uma crença, um objetivo pelo qual eu ultrapassaria qualquer barreira para conquistar.
E ultrapassei. Fiz da religião minha piada matinal, dos meus pais um obstáculo, da minha irmã uma convivência insuportável a mais, amigos eu praticamente não tinha (fiz questão de quebrar todos os vínculos). E quebrei estes vínculos por que não poderia sentir saudade, a vida tinha que estar desgraçada sulficiente para que eu não tentasse voltar atrás.
E eu fui com toda a fé. Num último passo rumo à minha tão aguardada liberdade entrei naquele ônibus, levei todo dinheiro que encontrei pela casa. Passei uma semana fora, mas só algumas horas longe do rastreador da minha mãe. Foi no mínimo uma semana de consciência. Eu sabia que se eu não quisesse voltar pra casa eu não voltaria, e eu decidi voltar.
Voltar por que se tinha dado errado alguma coisa aqui atrás tinha ficado. Foi um momento de lucidez, um único. Não tenho tanta vontade de ir mais, nem de ficar se quer mesmo saber.
Serei lembrada eternamente como a prima que fugiu de casa, a menina da sala de não-sei-quem que largou tudo, a loca que deu a loca.
Nessa vida breve e intensa, como já dizia Cazuza, eu quero mais é correr perigo. Sinto um êxtase pelo perigo. O frio na barriga é sempre bom. Tudo que é intenso é melhor. Não sei, ando confortável demais para escrever. Já prometi largar este blog por uns tempos. Entediante!
Desta vez vou entrar pela tela do computador e sair dela. Pra não sentir mais vontade de ficar aqui, cara a cara com uma tela tão mutável. (haha, piada interna).

2 comentários:

Fernanda Pires disse...

Lilian...
Sabe que vc me fez refletir...
Dar a loca seria legal, mas não combina comigo, com vc sim!

Mas falando sério...
Mandou bem demais neste texto,
é realmente perfeito!
Apesar de vc não valer o que o gato enterra, eu te venero, viu?

Pode se achar... Vc pode!

Lílian Alcântara disse...

nuhsaaa fiquei lisonjeada com este comentário. Puts.. vol me achar pro resto da vida ok?