21 de set. de 2008

E já nem escrevo mais



Escrever é uma tarefa árdua, não há quem desculpe seus erros ortográficos ou entenda sua falta de criatividade por uns dias. Nunca ninguém vai procurar ler seus textos comparando com os momentos de sua vida. Simplesmente acham que você traduziu, sem nenhuma falha, uma idéia ou uma paixão num monte de palavras sujas, que se empilham nos arquivos do computador ou mesmo de seu blog.
E nesta transição de leitor eterno, para libertadora de palavras (e não me venha com a palavra escritora que não encaixa) você se cobra em dobro, não é só por querer escrever cada vez mais e sentir necessidade disto, nem por não querer deixar vago os dias, e ver o contador de visitas aumentar cada vez mais lento, porque perderam as esperanças de ler algo que realmente os interesse.
Nesta busca amarga pelo que escrever a ambição pela vida alheia aumenta. Vida alheia que nos parece sempre cheia de coisas interessantes para escrever, fatos realmente empolgantes e inspiradores para que escrever textos melhores. Neste incansável interesse por todas as vidas que te rondam a tendência de querer observar mais de perto aumenta. Aos poucos todos que escrevem abertamente sobre suas vidas tornam-se textos, e apenas textos para você.
Se perde em ler blogs, flogs, orkuts (depoimentos, perfis, recados...), e quando nem isto é sulficiente para se informar sobre vidas que você passa a tomar como sua, você abandona as palavras escritas e procura seus escritores no youtube: entrevistas, textos caseiros, festas, montagens, ou o que for. Seus dedos têm sede de informação, suas idéias precisam se esquivar, e a vida alheia passa a fazer parte da sua.
E quando (eles) resolvem passar uma semana sem postar nada, sem lhe mandar novidades (mesmo que não saibam que você os lê o tempo todo) acaba ficando assim, os textos vão sumindo, quando resolve postar algo acaba postando coisas velhas, poemas chulos, vídeos que todo mundo já viu, seus textos que ficaram tão ruins que você nunca mostrou para ninguém. E assim se esvai cada comentário, cada visita, cada um que tenha vontade de te ler.
A culpa é da sua tendência de bebericar-se dos textos alheios antes de escrever. É uma fonte de inspiração viciosa, e te culpam por não ter o que escrever. Num ato de desespero tomamos rumos de escrita que acabam com toda a carreia não iniciada. Enchendo os textos de pontos, vírgulas e sem nenhum travessão, acaba-se por entulhar mais ainda o arquivo de seu blog.

- O silêncio da casa é corrosivo. -