25 de set. de 2008

Até o bom é ruim

Um William que não era Shakespeare, disse que desde a primeira vez que conversou comigo entendeu que eu era especial, fingi que não percebi que disse que eu tinha Síndrome de Down e continuei a vida. Tempos depois, dias talvez, esta frase começou a tomar conta da minha rotina.
Em variadas situações diziam ela pra mim, em sentido de agradecimento, raiva, compreensão ou o que fosse, eu era especial. No sentido de exceção ficou mais forte, e não parei de ouvir até hoje. Talvez seja muita falta de modéstia dizer que eu sou uma das poucas pessoas no mundo que odeio pensar em mim, meu defeito é o contrário. Quero cuidar da vida de todo mundo que me ronda (no bom sentido que isto tem) e que cuidem da minha pra mim.
Quando vejo que as pessoas reclamam de seus amigos cavucando com a unha o próprio umbigo e esquecendo do resto todo eu vejo o tanto que as pessoas são medianas. Não querem que eu cuide apenas da minha vida, mas também não querem que eu fique por conta delas, mas ainda querem que eu esteja sempre disposta quando elas me chamam.
Assim como não querem uma vida perfeita demais porque cansa, mas problemas demais causa depressão. Não querem muita festa, nem nenhuma. Não querem ficar bêbadas de amor, também não querem um amor leve demais, nem um muito perfeito exatamente no meio. Querem ser amadas pelo lado oposto, amar o lado oposto, e que nenhum dos dois seja excessivo, muito menos os dois juntos.
Se todas as coisas fossem medidas numa régua de 10 cm, ninguém ia querer a sua no 1, no 10 nem no 5. E os pontos de marcações deveriam variar de vez em quando pra ultrapassar a mesmice. É um caos tentar fazer alguém feliz, maior o caos tentar ser feliz.
Depois disto vem aquela vontade de mudar tudo, apagar tudo que é seu, apagar a memória, os textos, tudo que te demarque e recomeçar tudo. E sempre tem um palhaço que se planta na sua frente dizendo que você tá tentando um suicídio biográfico e "qual é o problema?", você pensa, pensa, não acha problema algum e senta, não faz nada.
O problema é que não tem problema. Não ter problema é um problema tão grande quanto ter muitos problemas. Porque se tá tudo muito bom, tudo muito bem, qualquer coisinha te tira do sério, te mata, te ressucita, te come, te vomita, te adoece e te sara. Quando não se tem nenhum problema, a roupa sujar na hora de sair é o cúmulo, é algo que parece só acontecer com você, e acaba com o resto do seu dia.
Não ter problema é vasculhar seus dias, minutos, segundos, atrás de um. Não te serve seus pais aceitarem tudo que você faz, seus amigos não te darem dor de cabeça, tudo ser muito bem discutido e o seu lado sempre vença. É um absurdo que ninguém questione o que você faça, será que te acham um gêniozinho ou uma anta tão grande que tornou-se indiscutivel?
Você no fundo, quer enlouquecer.

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