2 de set. de 2008

Um sonho-pesadelo

Olhei nos olhos de meu cão, que nem por um olhar me respondeu. Parei o ponteiro do relógio para olhar pela última vez aquilo em volta, parecia um abandono, não haviam sinais vitais.
Desci as escadas sem derramar nenhuma lágrima, sentia cada vez mais meu coração palpitar mais forte e forte. Abri a porta de meu quarto e num adeus em câmera lenta respirei bem fundo, para nunca esquecer meu próprio cheiro.
Queria mesmo partir a pé, mas é que "não dava pé". Quando o táxi chegou, eu já não via a hora de deixar tudo pra trás. Senti um leve vento desesperador de liberdade balançando meus cabelos. Era a minha revolução silenciosa, sem silhuetas, marchas imperiais ou tiros.
Horas mais tarde meu celular parecia um alarme de incêndio, não parava. Eu olhava os nomes e números que me ligavam, apenas por ironia. Resolvi atender uma das pessoas, e brincando com a verdade lhe enrolei de mentiras óbvias.
Confesso até ter passado por uns aflitos, um deles quando aquele rapaz entrou no ônibus procurando por uma tal Lílian, felizmente não pediu minha identidade. Me batizei então de Júlia.
Num tom meio poético, tudo que eu queria era conseguir chorar, ficar triste, angustiada, arrependida... Precisava me sentir mal, aquilo não era normal. Porém o que me tomou foi um ar não-covarde, uma felicidade contagiante, liberdade, empolgação, fiz planos pra uma vida inteira. Como viveria sem dinheiro, onde, com quem, como faria quando chegasse ao meu destino, se de lá eu partiria para outros.
Frustrante! Cheguei em Belo Horizonte sem encontrar ninguém a minha espera, pela primeira vez. Meus olhos brilharam. O coração palpitou muito forte quando pus a mão em minha mala, e antes que eu virasse num giro para pegar um táxi até a primeira parada alguém me abraçou por trás e cochichou meu nome. Era o fim de um sonho.
Com as piadas irônicas que tive que ouvir até chegar no carro, chorei. Chorei por mais um fracasso, por terem me encontrado, pelo meu futuro ser daí então menos amargo do que eu desejava. Tinha um desejo masoquista de sofrer, sofrer por fome, sofrer por frio, por saudade, por tudo que as ruas me permitissem.
Eu queria viver o que não me era permitido. Mas isto também não me permitiram.

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