17 de jun. de 2008

A minha tia-avó

O nome dela era Ana, aprendi a chamar ela de Madrinha Ana, porque é assim que ela gostava. Irmã da minha única avó viva, apesar de tanto ter a difamado pelas suas chatices, foi ela quem me mostrou como era o mundo antigamente, ela me ensinou que meninos não misturavam com as meninas, e que quando não se tinha televisão a opção era se juntar às primas, já que primos não podiam, e estabelecer no quarto mais mofado da casa, ela me ensinou não oferecer comida para as visitas. Calma, já vou explicar.
Era baixinha, 1,60 imagino, um pouco gordinha, cabelos cortados bem baixinhos, um brinco de pedrinha na orelha, um daqueles óculos de grau antigos que parecem ser escuros, um vestidinho todo cheio de florzinhas e olhos verdes. É quase tudo que me lembro, tudo para ser a tia-avó fofa pela qual, quando morreu, eu sentiria falta. Mas não, Madrinha Ana era brava, não gostava de meninos e meninas no mesmo quarto, se me lembro bem já castigou a mim e aos meus primos, fazia perguntas de sogra, e sempre foi a tia chata da família, aquela que faz todo mundo cruzar os braços quando tem que visitá-la no domingo, e preferencialmente não comer nada, pois não oferecia nada comestível de verdade.
Talvez por ser tão chata que seu marido morreu cedo, meu pai conta que: "com meses de casados ele já não agüentava ela mais, resolveu suicidar. Foi lá na nutricia e ia pular no rio, mas com medo de não morrer, amarrou uma corda na árvore em cima do rio "'se eu não morrer enforcado, caio no rio e morro afogado"', mas não era sulficiente a chance dele morrer era de só 200%, comprou um copo de veneno de rato "eu tomo o veneno, subo na corda e enforco, se não morrer envenenado, morro enforcado, ou afogado", ainda assim o risco de sobrevivência era grande, o medo de ter que voltar pra casa fez com que ele comprasse um revólver, agora sim "'bebo o veneno, me enforco depois me dou um tiro, ou morro envenenado, ou de tiro, ou enforcado, ou afogado". O plano era perfeito. Mas não foi infeliz de atirar na corda, não conseguiu se enforcar, caiu no rio vomitou o veneno, e foi salvo por um homem que passava perto".
A desgraça era tanta que ele morreu pocuo tempo depois.
Madrinha Ana não, viveu para atormentar os sobrinhos-bisnetos, já que não tinha nem filhos. E foi assim, no fim de sua vida dizem que deu tempo de pagar todos os pegados nos 3 anos entrevada em cima de uma cama.
Mas as tardes de domingo que perdi sem poder jogar adedanha com os primos não foram recuperadas.

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