7 de jul. de 2008

Meu travesseiro e o Carpinejar

Foto: O que interessa mesmo, é a almofada retângular no canto direito da foto. nada de bixo papão debaixo da cama.


Me sinto desleixada. Cada vez que leio um texto no blog do Fabricio Carpinejar descubro que tive menos infância, que tenho menos amor, não sei observar, não sinto, não tenho história... sou dura, sem sentimentos, sinto o que os outros sentem, não sinto apego ao que é meu, sinto apego ao apego dos outros.
E foi vagueando pelos arquivos do blog de Carpinejar que percebi meu desleixo maior, quando ele fala do travesseiro, que carrega a história de cada um, na rodoviária podemos avistar várias pessoas com travesseiros. Tive de concordar que travesseiro cada um tem o seu, aquele um pouco mais duro, ou um pouco mais macio não serve. Aquele que não tem o cheiro do seu cabelo, ou as marcas de suas unhadas nas noites aflitas também não serve.
Travesseiro é pessoal, tenho o meu médio, não me dói o pescoço nem a coluna, não me provoca sensações estranhas, nem deixo em casa quando vou viajar. Mas me sinto desleixada, não cuido do meu pedacinho de algodão, com as marcas de minhas babas de quando ainda usava aparelho, com os amassados de minha mão ao ter meus pesadelos. E se por acaso o esqueço em casa, não passo a noite em claro. Durmo com um outro qualquer, até sem nenhum.
Falta de sentimento, adaptação rápida. É como se eu trocasse de família e não sentisse falta desta, dos bolos da minha irmã, da lasanha da minha mãe ou da opinião rígida do meu pai. Da impaciência de cada parede ao me ver chorar deitada em meu quarto. Não tenho apego ao meu travesseiro, apesar de achá-lo perfeito. Talvez isto seja um crime pessoal tão grande, uma facada em minha história, em todos meus esconderijos do pique-esconde, em todas as manhãs de primeiro dia de aula que acordei pensando "Primeiro dia de aula é sempre mais escuro, as estrelas demoram mais a sumir, primeiro dia de aula vem à noite."
Tenho medo de um dia me perder de mim e nem me dar conta, de tão ágil adaptação. E se meu nome não for este, talvez eu nem lembre mais. Qual é mesmo a marca do meu travesseiro? Nunca procurei saber. Mas agora é tarde, a etiqueta já desbotou.

1 comentários:

Elder Barbosa disse...

Muito bom o seu texto! penso a mesma coisa em muito doq vc colocou no texto!
Adoro textos viajados como o seu! vc escreve de um jeito diferente..
bjoo